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Começamos a apresentar a controvérsia desta cartografia com uma provocação: não a veja apenas através das arestas delineadas de seu traçado na tela, mas projete a sua materialidade presente para as ruínas em que inexoravelmente ela se tornará. Queremos dizer que a cartografia só faz sentido se for possível visualizar as fissuras que tomarão conta de seu corpo uma vez que ela estiver definida. Logo, nosso trabalho já se declara inconcluso, no sentido de que não é capaz de mapear em definitivo o pedaço de mundo que vislumbra. Mais importante do que a precisão milimétrica dos dados são os espaços abertos entre os pontos, os caminhos possíveis que ligam um ator a outro. Ao olhar nossa proposta de mapa, não nos interessa achá-lo bonito, profundo, inusitado, conveniente, esclarecedor, científico,  mas pensar –  que belas ruínas dará essa cartografia.

 

Nossa controvérsia se volta para acontecimentos recentes no Brasil e seus desdobramentos. No período iniciado em junho até agosto de 2013 (mês da escrita deste texto), várias cidades do Brasil foram tomadas por inúmeras manifestações de grandes proporções como há muito não se via. O princípio detonador dos movimentos nas ruas foi a mobilidade urbana, mas logo outras causas, ou outros desejos, se fizeram presentes. As manifestações se tornaram imensas e difusas, sem um órgão centralizador ordenando seu rumo, e em muitos casos houve um embate direto desses desejos com as forças policiais do Estado – os corpos que ocupavam a rua passaram a enfrentar o Estado de frente.

 

A ausência de um líder, de uma instituição, de um trajeto pré-definido, de uma bandeira, de uma assembleia deliberativa, de velhas formas políticas se fez evidente. Mas o que é essa nova forma política pulsante das ruas? Muito se falou em confusão, complexidade, mas poucos arriscaram uma explicação que desse conta do evento – explicar o evento seria uma forma de esvaziá-lo politicamente, de retirar sua potência. Talvez, e isso é uma hipótese, seja preciso inventar novos operadores teóricos e analíticos para tentar produzir um conhecimento sobre as passeatas que inundaram as ruas do Brasil. É fato que as manifestações são muito diferentes de outras mobilizações da nossa história recente, como os “caras pintadas” do Fora Collor, as greves do ABC e a luta pelas Diretas Já. Nesses casos, as ruas eram um último estágio de mobilização política para uma pauta e forma de protesto definidos em assembleias. A impressão que temos ao olhar de perto e participar das manifestações de agora é que sua forma é disputada nas ruas, e só com a multidão em movimento é que ela define algum rumo. A estética das ruas é construída no momento em que corpos e desejos se encontram e é modulada a cada encontro. Cada nova manifestação pode inventar novas formas. Como pensar a política e a estética de um acontecimento que não se define por uma forma estável, identificável? Como produzir um mapa de um evento no qual sua maior constância é a disputa e a modulação de seu corpo estético? Talvez a resposta seja justamente se concentrar nas disputas e no resíduo infinito que habita o espaço entre os corpos.

 

Pensamos as manifestações como um adensamento da ideia de “canteiro de obras” (Latour, 2012), na qual cada ida à rua é uma nova etapa da produção de um corpo que está a todo momento sendo remodelado. Ao contrário de um dos gritos que ecoou nas ruas, o “gigante acordou”, não vemos o gigante como um ser mítico que de repente se ergueu, mas como uma quimera construída a todo momento. Ao final de cada manifestação, o gigante se ergue assumindo seu corpo desproporcional, mas é imediatamente, e aos poucos, desmembrado pelas redes, pelas narrativas, pelos atores que o fizeram. O gigante é despedaçado apenas para se reconstruir mais uma vez nas ruas, sem nunca possuir um corpo estável que o permita simplesmente acordar e sair pelas cidades. Logo, as ruas são esse canteiro de obra constante, disputado ferozmente, mas que também inventa formas temporárias que habitam as ruas em determinados momentos – construção constante e também produção de uma forma que não se faz definitiva. A cartografia das ruas deve portanto contemplar essa dualidade justaposta, da modulação constante e das formas momentâneas. Ficam claras para o cartógrafo as possíveis ruínas do gigante de pé, como um arranha-céu esdrúxulo. Mas como serão as ruínas da ondulação constante das ruas?

 

 A proposta desta cartografia de controvérsias é refletir sobre a disputa discursiva em que os signos presentes nas ruas são re-significados e postos em luta. Justamente o gesto de construção e desmembramento do gigante das ruas. Para isso, a cartografia se concentrará no embate discursivo em relação aos atos de “vandalismo” durante as manifestações, de que forma é construída a ideia de vândalo, ou como um mesmo gesto (signo) é transfigurado em muitos, sendo político, crime, apolítico, agregador, desagregador, minoritário, majoritário, desestabilizador, resistência, depredação,  assumindo várias formas nas disputas em jogo nos discursos midiáticos. Ainda como um recorte, propomos uma cartografia a partir do gesto da multidão na manifestação do dia 17, no Rio de Janeiro, em que houve um confronto com a polícia na frente da ALERJ, no qual os policiais recuaram e os manifestantes tomaram as escadarias. Duas perguntas surgem como ponto de partida para se lançar um olhar na construção midiática (grande mídia e mídia ativista) sobre este evento:

 

1. Como esse fato desencadeia múltiplas perspectivas sobre a manifestação?

 

2. Como os atores e os signos em jogo são disputados e significados nas múltiplas perspectivas?

 

Vemos a construção e disputa do signo vândalo como parte de um agenciamento (Deleuze, 2000), como parte da multiplicidade de estar nas ruas ao mesmo tempo em que se é multiplicidade. Quando aparece a ideia de vândalo a partir da ação produzida na ruas, este se torna um fragmento de uma disputa maior travada pelas forças políticas que estão nas ruas. Por outro lado, o signo vândalo não é uma unidade metafórica, mas as muitas formas de ser na rua, não há um único vândalo, mas os muitos que são construídos nas narrativas sobre as manifestações – um mesmo gesto, jogar um coquetel molotov, embora tenha às vezes um único resultado material, a explosão, pode assumir vários sentidos políticos, estéticos, e servir para construção de múltiplos sujeitos. Se há uma explosão em chamas, os fragmentos são todos aqueles que transbordam das ruas para as narrativas.

 

No entanto, não há uma separação entre as ruas e as narrativas, como se uma espelhasse a outra, mas um desdobramento, extensão, de forma que as ruas produzem os gestos que produzem as narrativas que produzem os gestos novamente nas ruas. A produção dos vândalos como gesto, sujeito e narrativa, é como o Uruboro – a antiga e mítica serpente grega que devorava a própria cauda formando um círculo. As ruas, através das suas imagens e narrativas, e em especial no agenciamento do signo vândalo, com sua cauda longa de escamas, asfalto e barricadas, se devoram a si mesmas, e assim, inventam e re-inventam o seu gigante a cada novo enfretamento.

Entendemos que a cartografia, ao se debruçar sobre as ruas, inevitavelmente participa da cauda da serpente, e é também devorada por ela. O ato de mapear, ao inventar arestas, mesmo que elas se percam no horizonte e nos desejos dos cartógrafos, é um ato de participar deste agenciamento, passar a fazer parte da multidão das ruas. Se colocar de fora seria não compreender a complexidade das forças presentes na construção das manifestações e perder de vista todas as transformações que ocorrem. Reconhecemos também o problema de nossos corações baterem mais forte pelas ruas, e de estarem completamente mergulhados na multidão. Pulsamos juntos com o vozerio das manifestações e sofremos as indefinições dos sujeitos que são vândalos, heróis, manifestantes e agora também pesquisadores. Podemos guardar o coração em uma gaveta temporária, mas não negar que suas vibrações agitam as palavras escritas.

 

Para cartografar os acontecimentos do dia 17 de junho, em que manifestantes conseguiram acuar um grupo de policiais e ocupar as escadarias da ALERJ, partimos de uma utopia: de que fosse possível congelar o tempo segundos antes da tomada da escadaria. E a partir do tempo suspenso, fosse possível fatiar a cena em camadas e sobrepô-las umas sobre as outras para pensar como agem e se relacionam os atores presentes no campo e no extra-campo. Na nossa cena imóvel, é possível ver claramente a presença dos manifestantes e suas variações, Black Blocs, FIST, Partidos Políticos, Estudantes, também é fácil ver a polícia com seus escudos, o prédio da ALERJ com sua natureza de pedra, o coquetel molotov que neste momento suspenso ainda flutua no ar no caminho que faz entre a mão de um mascarado e a escadaria da ALERJ, talvez uma fumaça branca por perto já seja o resultado da explosão de uma bomba de gás, os cartazes dos manifestantes que circundam toda a cena, como a luz azulada das telas dos celulares – entre outros aparelhos de registro de imagem – que tudo gravam. Fora deste quadro, outros atores importantes também estão em constante agitação, são atores que estão extra-campo, Sérgio Cabral, talvez ouvindo as ondas do mar do Leblon em seu apartamento antes de qualquer manifestação chegar ao bairro, as redes sociais, construindo aquele espaço dentro do quadro simultaneamente aos gestos das ruas, a grande imprensa, que pode ser escutada a todo momento através dos ruídos da hélice do helicóptero da Globo, e a imprensa ativista no chão da rua, próxima aos manifestantes, em perspectiva diametralmente oposta à câmera da Globo. Este milésimo de segundo imaginário que estancamos do tempo, como se pressionássemos um sangramento, é prenhe de multiplicidades e agenciamentos em torno da produção do signo vândalo.

 

Ainda forçando nossa imaginação, podemos ver o policial acuado minutos antes de se esconder no prédio, vendo os manifestantes crescerem em poder de fogo, quando o mascarado joga o coquetel molotov. Os jovens ao pé da escadaria vêem a polícia que foge para dentro e os músculos das pernas se contraem para o avanço sobre o prédio. O diretor de imagem manda um rádio para o câmera do helicóptero, foca na ALERJ, essa é a imagem da noite. Os manifestantes mais ao fundo pressentem a vitória iminente da linha de frente que consegue acuar a polícia e conquistar o território da assembleia. Os repórteres da mídia ativista se dividem, uns estão exaltados com a potência do gesto, outros temerosos. Nas redes, a confusão se instalará em instantes – será o local que melhor absorverá a complexidade dos acontecimentos, como se refletisse imediatamente a frequência das ondulações das ruas. O coquetel ainda não caiu, ele ainda flutua com sua cauda de fogo. Quando cair, todos os atores serão acionados a agir, e o vândalo como ideia, signo, imagem, se transubstanciará em muitos – sua forma será a da explosão com sua miríade de estilhaços.

 

Apesar da utopia do tempo suspenso, esta cartografia não se pretende estática. Como posto acima, este tempo imóvel e imaginado não é estável, mas cheio de possibilidades. Propomos um mapa que possa ser percorrido nos infindáveis caminhos que o leitor inventar, ao invés de um mapa que tudo mostra, um mapa que embaralha os caminhos. E cada leitor / espectador poderá traçar um fio, tecer sua própria rede, diante do diagrama proposto. A navegação se dará a partir dos atores e dos atores que cada um aciona, de forma que o trajeto é definido não pelo mapa, mas pelas escolhas de quem o percorre. Claro que há um recorte sugerido e uma limitação de caminhos possíveis, mas espera-se que a experiência de inventar caminhos a cada leitura passe um pouco o que sentimos quando vamos às ruas e percebemos que ela está em constante monção e que é preciso percorrê-la de outras formas. Reconhecemos também os possíveis desdobramentos para além da “batalha da ALERJ”, e sabemos da fragilidade da aresta que não deve servir como uma rede de contenção, mas como uma rede de relações. O traçar da rede, que começa e circunscreve um  evento em um tempo – espaço delimitado se projeta para outros nós e acontecimentos que fazem parte do universo que abarca as recentes manifestações no Brasil.

 

 

 

 

Referências

 

 

BORGES, Jorge Luis. História universal da infâmia. Porto Alegre: Editora Globo, 1975.

 

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia vol.1. São Paulo: Editora 34, 2000.

 

LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução à teoria do ator-rede. Salvador: Editora UFBA e EDUSC, 2012.

 

A controvérsia

 

V de Vândalo – a estética das ruas em disputa: quem vandaliza quem

Menos apegadas ao estudo da cartografia, as gerações seguintes entenderam que esse extenso mapa era inútil e não sem impiedade o entregaram às inclemências do sol e dos invernos. Nos desertos do oeste subsistem despedaçadas ruínas do mapa, habitadas por animais e por mendigos.” (Borges, 1975:71)

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